Meus salários como Desenvolvedor no Brasil e como foi a evolução da minha carreira
Se você é desenvolvedor de software e usa o Twitter com certa frequência, deve ter visto a enorme discussão deste último final de semana sobre ser positivo ou negativo a divulgação de salários na rede.
Isso começou com programadores gringos e foi parar no Brasil, porém com toda a polêmica gerada muitas pessoas que haviam divulgado os salários, inclusive eu, resolveram apagar.
A intenção me parecia boa, ao menos a minha era boa, mas alguns pontos negativos levantados faziam sentido. Então, resolvi tentar tirar algo de bom dessa treta toda e compartilhar com vocês um pouco da minha trajetória. As pessoas que me acompanham no Instagram (@fredmaiaarantes) ou no Youtube (Goianos na Irlanda) sabem que hoje moro na Irlanda e sempre gero conteúdos pra ajudar e informar quem tem interesse de trabalhar por aqui. Porém vou compartilhar apenas meus salários de quando eu morava no Brasil.
A minha intenção aqui é mostrar que todos (ou quase todos) começam de baixo e tentar mostrar um pouco de como eu consegui ir evoluindo na minha carreira e ir aumentando meu salário com o tempo.
O início é difícil pra todo mundo. Para alguns, é muito mais difícil que pra outros. Eu sou muito privilegiado de, ao trancos e barrancos, ter tido condições de estudar em uma faculdade, ter comida em casa e não precisar trabalhar pra me sustentar, já que morava com meus pais que me proviam tudo isso. Apesar dos privilégios, espero contribuir com minhas experiências. E espero que mais pessoas compartilhem as suas.
Vamos às experiências profissionais, iniciando pelo início! Passei por muitas empresas, então vou tentar ser direto nas respostas seguindo uma linha do tempo como se estivesse falando do meu currículo.
Ao final do post, tentarei sumarizar algumas dicas e concluir o que mais contribuiu para o meu crescimento profissional, pensando em carreira e pensando em salário. O salário não será 100% certo, pois não lembro o valor exato de alguns. Vamos lá!
Minha trajetória profissional no Brasil
Maio/2008 - Outubro/2010: Estagiário (Goiânia)
Como soube da vaga e me candidatei? Após participar de um evento gratuito da Microsoft chamado Student to Business, meu currículo foi parar no banco de dados da empresa e fui comunicado sobre o processo de seleção.
Quanto era o salário? Comecei minha jornada ganhando R$200,00 + vale transporte para trabalhar por meio período. Ganhei alguns aumentos nesse período e após 2 anos passei a trabalhar full-time. Quando saí em 2010 ganhava por volta de R$800,00 por mês. Aprendi muito por lá e mesmo tendo recebido ofertas com salários melhores, eu preferi continuar no estágio, pois tinha certeza que o meu aprendizado valeria muito a pena pra minha carreira.
Por qual motivo saí da empresa? Decidi sair pois queria focar em desenvolvimento Java, nessa empresa eu trabalhava com projetos muito diversos. E enxergava que o foco em uma linguagem iria me fazer um profissional melhor e teria melhores oportunidades.
Novembro/2010 – Julho/2011: Desenvolvedor Java (Goiânia)
Como soube da vaga e me candidatei? Um amigo meu era consultor Java e nos ajudou na empresa anterior. Ele me falou que precisavam de um desenvolvedor Pleno para um projeto deles e me perguntou se eu tinha interesse. De início eu falei que não, pois era estagiário e perguntei se tinha vaga de Júnior, ele me convenceu de que eu daria conta de encarar a vaga de pleno, me deu dicas pro processo seletivo e eu passei.
Quanto era o salário? De R$800,00 na empresa anterior, passei a ganhar R$2.200,00. Foi um salto gigante pra mim, tanto na carreira quanto financeiramente. Era contratado como cooperado e não como CLT.
Por qual motivo saí da empresa? Por não ser CLT eu já entrei nela pensando em ficar pouco tempo. Na minha cabeça e por pressão da família eu precisava de um emprego CLT. Então saí quando tive essa oportunidade.
Agosto/2011 – Agosto/2012: Desenvolvedor Java (Goiânia)
Como soube da vaga e me candidatei? Um amigo que era instrutor de cursos na primeira empresa que fiz estágio, trabalhava nessa nova empresa. Eles tinham um sistema gigante que seria migrado de Delphi para Java. Esse amigo comentou com outro amigo em comum sobre a vaga, eu entrei em contato com ele pra saber mais, pedir umas dicas e me candidatei.
Quanto era o salário? O salário era algo por volta de R$2.600,00 e depois tive algum aumento. O projeto era muito importante na empresa, fazíamos parte do departamento de inovação e tínhamos uma enorme resposabilidade no futuro da empresa.
Por qual motivo saí da empresa? Nessa época eu passei a me interessar por outras linguagens, testes automatizados e TDD. Fiz um processo seletivo na Thoughtworks, me apaixonei pela cultura da empresa, fui aprovado no processo seletivo mas acabei recusando a proposta. Eu teria que mudar de cidade e não era o momento adequado na minha vida pessoal. Pouco tempo depois uma startup entrou em contato comigo e tinha similaridades com o que eu queria trabalhar, linguagens diferentes e uma cultura ágil. Entrei nela mas meu tempo nessa startup foi bem curto então nem vou citar.
Novembro/2012 – Maio/2013: Desenvolvedor Scala (Goiânia)
Como soube da vaga e me candidatei? As coisas não foram bem na startup que entrei anteriormente. Expectativa e realidade de ambas as partes não bateram. Mais uma vez, amigos do grupo de Java que eu participava me indicaram para essa nova vaga.
Quanto era o salário? O salário era algo por volta de R$3.300,00. Meu objetivo de aprender linguagens novas estava sendo alcançado. Trabalhei principalmente com Scala e também com Groovy em projetos bem legais e inovadores.
Por qual motivo saí da empresa? Pela primeira vez eu saí por causa de salário. Meu salário líquido era algo por volta de R$2.700,00 (não lembro exatamente). Recebi uma proposta muito boa, irrecusável na minha opinião e decidi aceitar.
Junho/2013 – Agosto/2014: Consultor Java (Goiânia)
Como soube da vaga e me candidatei? Nesse período eu estava ministrando cursos de Java e comecei a dar aulas particulares para um aluno que após algum tempo me disse que era dono de uma empresa e estava estudando Java para entender melhor como funcionava pois precisaria em breve de um consultor para um projeto grande que estava pra fechar.
Quanto era o salário? Nessa empresa também entrei com o modelo de cooperativa e meu salário líquido era de R$5.000,00. Quase o dobro do valor líquido anterior.
Por qual motivo saí da empresa? Decidi me mudar de Goiânia nessa época, em busca de desafios novos e maiores na minha carreira. Analisei São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre e acabei conquistando uma oportunidade no Rio de Janeiro e decidi me mudar.
Agosto/2014 – Maio/2015: Desenvolvedor Java / Groovy (Rio de Janeiro)
Como soube da vaga e me candidatei? Na minha busca por uma nova cidade e projetos maiores, entrei em contato com um amigo que morava no Rio e coincidência ou não, havia uma vaga aberta na empresa que ele trabalhava, enviei meu CV e já estava com viagem de férias planejada para o Rio, todas as datas bateram, fiz o processo seletivo e fui aprovado.
Quanto era o salário? A contratação era CLT e o salário algo por volta de R$5.500,00. O valor líquido diminuiu bastante se comparado ao meu emprego anterior. Ainda saí da casa dos meus pais e passei a pagar aluguel e todas as minhas contas. Além de ir morar em uma cidade com custo de vida bem maior. Apesar de acabar ganhando menos, era o melhor pra minha carreira.
Por qual motivo saí da empresa? Eu era terceirizado em uma empresa para um projeto do Governo e nessa época com o escândalo do mensalão e a crise iniciada no Rio, o projeto chegou ao fim antes do tempo previsto. Saí da empresa pouco antes do prazo final do projeto.
Abril/2016 – Setembro/2017: Líder de Time e Desenvolvedor Java / JavaScript (Remoto)
Como soube da vaga e me candidatei? Mais uma vez, um amigo meu me indicou. Ele foi passar uns dias lá em casa no Rio e me falou da empresa atual. Trabalho remoto, algo que eu buscava há tempos. Nao tinha vaga aberta mas com a indicação dele a empresa resolveu me testar. Fiz todo o processo seletivo, fui aprovado e criaram uma vaga pra mim.
Quanto era o salário? Se não me engano entrei ganhando R$7.500,00 e depois foi para R$8.000,00. Nessa época me mudei para Goiânia novamente, depois voltei para o Rio, depois vim para a Irlanda. Sinto sua falta trabalho remoto.
Por qual motivo saí da empresa? Estava morando na Irlanda e ganhar em reais e gastar em euros não estava sendo fácil. Passei em um processo seletivo na Irlanda onde consegui o visto de trabalho e dei outro grande passo na minha carreira, iniciando meu primeiro trabalho internacional.
Como consegui aumentar meu salário?
Bem, você pode perceber claramente que em toda mudança de emprego, ao menos em quase todas, meu salário foi aumentando. É o que mais dizem por aí que pra conseguir um aumento significativo você tem que trocar de empresa. Nao é o que me motiva, nunca foi, claro que o salário é muito importante mas não é o mais priotário pra mim. Em apenas uma dessas mudanças o salário foi o que me fez trocar de emprego.
Minhas mudanças são sempre muito mais focadas no meu crescimento pessoal e profissional, avalio muito bem a cultura da empresa, projetos, ambiente, tecnologias e vejo se ambos (eu e a nova empresa) vão sair ganhando. Parte do que chamam de cultural fit.
Outro fator sempre muito presente e que colaborou muito com meu crescimento foi o networking. O famoso QI (quem indica). Muita gente acha que networking é ter muitas conexões no LinkedIn. Pra mim é ter conexões reais com pessoas que compartilham dos mesmos objetivos, que geram valor um pro outro e que se ajudam na jornada de aprendizagem e profissional.
Já ouvi dizer que com QI é muito fácil. É claro que facilita, com certeza ajuda. Mas uma indicação real, uma recomendação sólida, só é feita quando se conhece de perto a pessoa e há confiança no trabalho dela. Ninguém recomenda um amigo na empresa se esse amigo for alguém que não agrega valor e que não se esforça para dar o seu melhor no trabalho.
E como se faz networking? Posso dizer como foi pra mim. Participando de eventos da área, ministrando palestras em eventos, mais a frente sendo coordenador de grupos de tecnologia, indo atrás de patrocínios, locais para eventos e etc. Contribuindo com outras pessoas de forma genuína.
Tive blog por muitas vezes, parava e começava mas nunca desisti de compartilhar. Hoje gero conteúdo principalmente no Instagram e Youtube e agora aqui mais uma vez, escrevendo para um novo blog. Resumindo, colabore com outras pessoas e um dia isso volta pra você. Suas atitudes, sejam boas ou ruins, voltarão pra você de alguma forma.
Outra coisa que posso acrescentar que me ajudou na minha carreira, foi ser mais ativo nas empresas, dar minha opinião nos momentos de tomada de decisão e não apenas esperar que decidam tudo por mim.
E claro, melhoria contínua com cursos e estudos que sempre fiz por conta própria. Não espere que sua empresa invista em você, que a empresa te pague um curso ou que a empresa te dê tempo pra estudar. Se ela der, ótimo! Mas não conte com isso e seja dono da sua carreira.
E pra fechar, cuide da sua saúde, da sua vida pessoal e de seus relacionamentos. Tive momentos onde foquei demais na carreira e minha vida pessoal foi para o buraco. Você tem muito mais chances de ser um profissional melhor, quando se torna uma pessoa melhor.
Ficaria grato de saber se esse post te ajudou de alguma forma. E se algo não ficou muito claro, só deixar um comentário que eu te respondo e/ou atualizo o post.
Até a próxima!
Postado originalmente em Dev.to.